14.11.18

Sombras geométricas

Às vezes só é preciso dar duas voltas ao quarteirão, exercitar os músculos dos pés e das pernas, e escutar o rebuliço no seu andamento ruidoso do meio-dia. Há sempre uma passagem secreta para uma rua escondida, onde os sons ficam em lugares cimeiros, bem lá em cima entre as chaminés e os aviões. Abre-se uma janela e há um papel que cai, alguma coisa nele escrita, um poema amarrotado numa língua estrangeira. Talvez seja um novo rascunho de alguém que passa as horas entre quatro paredes brancas, um som de rádio que se confunde com o trânsito distante e um retrato de alguém morto há muito tempo: um músico, um poeta, um escritor, um ídolo? É o sol que entra pela janela que determina a hora.